Artigos da Seção AMAN 72

O (POUCO) CONHECIDO RETÃO

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  Mário Augusto, irmão afetivo, depois de Alambari Papers instigou-me a abordar outro ícone da AMAN, o Retão, eixo de ligação do Portão Monumental ao Estado-Maior e Conjunto Principal da Academia. Motivo de pilhérias e causos do folclore militar resendense, a imponente via asfaltada - oitocentos metros de extensão aproximados - espelha peculiar simbolismo de sonhos, realizações, alegrias, tristezas, impulsos e reflexões no vaivém rotineiro de cadetes e atividades de calendário escolar.

   Comentar sobre instalações, mesmo recantos da antiga Escola Militar de Resende, impõe retroceder a primórdios da transição do Realengo para o Vale do Paraíba, idealizada em panorama de significativas transformações nacionais. 20 de março de 1944 marca a cerimônia de abertura inaugural do Portão de Entrada aos 595 cadetes fundadores, mas até a consumação daquele momento festivo tempos difíceis transcorreram desde a concepção original do Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, chefe de vontade inabalável a sustentar a ideia do grandioso empreendimento.    

    Seu dinamismo e visão estratégica legaram indiscutível influência à evolução histórica do Exército e do Brasil, ainda subdimensionada. Paraibano de Cabaceiras, irmão de João e sobrinho de Epitácio Pessoa, respectivos governador da Paraíba e presidente da República, poucos anos após ter sido declarado Aspirante-a-Oficial de Infantaria migrou para a Cavalaria graças a um tipo de requalificação existente à época que lhe permitiu comandar bravamente um pelotão do Exército francês na 1ª Guerra Mundial, familiarizando-se com a recém-nascida motomecanização militar. Fruto dessa enriquecedora experiência profissional, a aquisição dos Renault Ft-17 - carros de combate pioneiros do nosso Exército – derivou de recomendações abalizadas do jovem oficial, cognominado Pai dos Blindados brasileiro pelo comando precursor – em 1923 - da 1ª Companhia de Carros de Assalto, primeira unidade do gênero.   

   Meados dos 1920, em episódio pouco divulgado, na Escola Militar do Realengo que viria a comandar entre 1931 e 1934, integrou movimento vitorioso para fazer de Caxias o patrono oficial do Exército no lugar de Osório, até então o patrono informal. Derrotado o carisma de um, vencia o formalismo da personalidade de outro general consentâneo com a imagem do Exército mais disciplinado e profissional, por via de consequência dos motivos dominantes da transferência da Escola Militar para longe da Capital Federal.

    No comando do Realengo, visando a enaltecer a formação e o prestígio social dos futuros oficiais, introduziu várias modificações: retomou e revalorizou o título de cadete; criou o Corpo de Cadetes e o seu brasão; reformou o currículo escolar; instituiu novos uniformes; sacralizou o espadim de Caxias como símbolo da honra e da disciplina militar. Tais providências representavam de fato o introito de algo mais importante – a construção de uma nova Escola, consolidado na Escola Militar de Resende, em 1944, depois Academia Militar das Agulhas Negras, em 1951.       

   Mesmo na reserva, o Marechal José Pessoa continuou a dar mostras de pioneirismo invulgar, e prova disso, em 1955, foi a Comissão Demarcadora do Local da Nova Capital que chefiou com a habitual competência para a instalação atual de Brasília. Mas a sua obra principal, a AMAN, sobrepujou as demais na obstinação e nível de engajamento pessoal.  

   Clima ameno, espaços amplos, instalações imponentes e confortáveis, equidistância relativa do Rio e São Paulo – os dois maiores polos industriais do País, afastamento do ambiente político pernicioso da Capital, modernidade diante de crescentes desafios foram pressupostos vitais para a AMAN ser construída em Resende.  

   Acho que o caminho riscado na imensidão do Campo de Parada representa algo de imperceptível nobreza, verdadeira ponte simbólica entre a sedução mundana da cidade próxima e o monastério da vida militar repleto de ritos e sacrifícios.  

   Se pudesse voltar no tempo à juventude acadêmica, a trilhar em noites chuvosas e frias o Retão, eu suplicaria ao deus dos exércitos:

- Irei comandar. Ajudai-me a ser sábio!

Rio, 24 de abril de 2016.

Cad Cav 1039/72 Nilo.