Artigos da Seção AMAN 72

VIVE MAIS QUEM BRINCA MAIS

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  Francis Albert Sinatra - The Voice - completaria cem anos em 12 de dezembro passado, com revival festivo a personagem estelar do século XX. Mr Frank levou vida esplendorosa: namorou mulheres estonteantes, curtiu o que a grana poderia oferecer de melhor, consagrou-se como ator, ascendeu a ícone imorredouro no Olimpo musical planetário.

    Contratempos? Encarou-os de fato, destacando-se ligações mafiosas e o casamento com a deusa Ava Gardner que quase o diplomou suicida ante a sua (dela) irrefreável paixão pelo toureiro espanhol Dominguin. Idos românticos, quando era moda ter saudade ou sofrer por amizade.       

    De festival marcado por (re) lançamentos de discos, filmes e publicações, inclusive o tomo final de densa biografia, o jornalista Ruy Castro se animou a perguntar: onde foi parar a famosa coleção de trenzinhos de Sinatra? Fez-se mistério, dias depois desfeito porque continuava onde sempre estivera – na mansão da Califórnia – revivendo expressão dos Ol`Blue Eyes: - “quem morre com mais brinquedos ganha”.     

    Sinatra, nascido em Nova Jersey, filho de imigrantes italianos, na fantástica coleção que ocupa um salão inteiro da enorme propriedade vingava infância difícil, por surreal que pareça: um sujeito capaz de comprar o que a maioria dos mortais adoraria possuir atribuía a brinquedos – fabulosos – compensar frustrações de menino pobre. Pensando bem, tinha lá suas razões: quem não guarda penduricalhos de estimação, símbolos existenciais talvez fadados ao desaparecimento logo consumadas inexoráveis viagens aos Campos Elíseos?  

   Daqui a séculos, terráqueos, marcianos e selenitas apreciadores de música clássica  se deliciarão a ouvir Night and Day, Come Fly with Me, All My Tomorrows e centenas de interpretações do eterno mito ítalo-americano. Quanto a nós, caro leitor, até quando sobreviveremos na memória das gentes, materializadas subidas ao andar de cima?

    No meu trabalho incentivo viúvas e filhas a preservarem – no mínimo - as alterações militares de maridos e pais, autênticos arremedos biográficos reveladores de inclinações, experiências e desempenhos profissionais. Em casa, dou tratos à bola para prolongar a influência familiar – ou sobrevida – de valiosos alfarrábios: discos queridos, reescutados sempre; livros raros, às vezes relidos; camisas do Vasco, jamais usadas; o mote original da canção do 15 R C Mec, fotografias e objetos variados, além de espada levemente curvada – por obra e graça de quadrúpede cavalar reverencial a arquétipos da arma montada.

   Obviamente, cada cidadão lega os seus próprios trenzinhos nem sempre embalsamados devido a imposições de espaço físico, desígnios parentais ou metafísicos – afinal há quem deteste esbarrar em finados cultuados no dia a dia doméstico.   

   Entre Platão e Luís XV corações balançam inseguros.     

   Filosóficos, pouquinha coisa, tendem a respaldar-se no ideário platônico da imortalidade anímica para imaginarem possuir cadeira cativa neste mundo de questionamentos irrespondíveis. No canto oposto do ringue, cartesianos duas categorias acima encampam a praticidade cômoda do absolutismo mental, finalizando elucubrações cansativas: “depois de mim, o dilúvio”.    

   Nem otimista ou pessimista demais, na dúvida recorri a letras de sucessos do garoto de Hoboken - e bastou lembrar a de Young at Heart : -“ Contos de fadas podem  realizar-se e acontecer se você for jovem no coração ... não importa riqueza, é muito melhor ser jovem no coração... e se você viver até os 105, pense em tudo que gerar, fora estar vivo...e aqui está a melhor parte, você começou bem se estiver entre os jovens no coração”.     

    Valeu Sinatra. A arte de viver, uma grande brincadeira, requer alegria, humor leve e gentileza para ter sucesso e duração. Corações jovens aguentam trancos melhor, e ouso alterar a sua frase – “quem morre com mais brinquedos ganha”:   

   Vive mais quem brinca mais!

   Brincadeira viu? ... Seu Francisco Alberto.


Rio, 24 de março de 2016.

Dom Obá III, night and day flying to the moon.{jcomments on}