Artigos da Seção AMAN 72

SERENDIPITY OU ALÔ BOY, ALÔ JOHNNY ?

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    Serendipity, palavra charmosa do idioma inglês, não tem tradução, tal parecia antever Noel Rosa nos 1930 – embora a tentativa de emplacar serendipidade - confirmado por maioria de linguistas partidários da falta de vocábulo capaz de transportar-lhe o significado para o português. Eis o xis da questão, tão bem percebida pelo gênio musical de Vila Isabel.  

   Grande Poeta da Vila! Não tem Tradução, a canção, culpa o cinema falado por inocular estrangeirismos no linguajar do malandro do morro, a quem esclarece “que o samba não tem tradução no idioma francês” - a simplicidade brejeira da letra critica o modismo disseminado à época, mesmo nas camadas mais populares, do emprego de anglicismos. O crescimento da aldeia global só agravaria a questão.    

   Serendipity corresponde à nossa saudade: sem tradução literal, é verdade, mas explicável: assemelha-se ao insight, uma revelação criadora surgida por acaso. A história da humanidade exalta serendipities famosas - a Eureka! de Arquimedes, a queda da maçã para Newton, a “tolle e legge” de Santo Agostinho, o scat singing de Louis Armstrong, a quietude do Cobra depois que Lord Salvanyus Gladius empregou a Brigada de Cavalaria Ligeira Praiana no zap72 e triunfou, incólume. Animado, acho ter sido agraciado com achados recentes.

   Primeiro quando se levantou a bola da criação do Sargento-mor em andamento no EB, inspirada em forças militares estrangeiras. Lord Salvanyus chiou de bate-pronto, tentei socorrê-lo apelando à kultur, mas contrapôs-se enxurrada de mísseis entre os quais o mais recorrente foi - “se todos adotam, então aqui também tem de adotar”. Ponto. Nem tudo que reluz é ouro, alertou-me antigo ditado de nossos avós e logo avultaram cooptações, malsucedidas, de experimentos alienígenas. Fui à luta ... papirar.

    A figura do Sargento representante do Comando persiste há séculos - saibam devotos do Sergeant major padrão US Army - inclusive no Exército Português em que hoje o Sargento-mor percebe rendimentos idênticos aos de Capitão. O tema envolve nuances histórico-culturais variadas que desprezadas certamente provocarão borbulhas refratárias à iniciativa em curso. Boas ideias? Ótimo, desde que se saiba ajustá-las a realidades por vezes antagônicas. Será o     momento certo?

   A querela produziu-me o efeito colateral de constatar a ausência de pesquisas e estudos sobre a formação e evolução histórica do sargento no Brasil, em contraponto aos oficiais. Daí veio o estalo: não agradaria a algum confrade, ou equipe de confrades, vir a preencher a lacuna com publicação sobre o tema? Considerei a descoberta uma serendipity à espreita de consumação integral.         

    Em meio a alfarrábios relendo o livro Formação do Oficial do Exército, do Cel Jeovah Motta, tive a revelação seguinte na alusão a Joaquim Gomes de Souza, gênio matemático brasileiro que praticamente ninguém conhece. Para avaliar-se a sua capacidade, Souzinha – assim chamavam o maranhense franzino – teve a ousadia de, aos dezessete anos, ser aprovado no concurso para professor da Real Academia Militar, em 1846, isso depois de aos quinze conquistar o direito de cursar Medicina; aos dezenove, dissertou sobre o Modo de Indagar Novos Astros, Sem o Auxílio de Observações Diretas, utilizado até hoje pela Astronomia; aos vinte, era doutor em Ciências Matemáticas; aos vinte e um, publicou Resolução das Equações Numéricas. Souzinha, fera de currículo que assustaria o Dal Bello, faleceu em Londres, esquecido - aos trinta e quatro anos - e assim permanece apesar de ser considerado o primeiro e maior matemático brasileiro da história.

    Caros amigos:

   Confesso que minhas impressões da falta de memória nacional sobre o Sargento e o gênio Souzinha estão mais para constatações que serendipities deflagradoras de descobertas. Enaltecia-as apenas para demonstrar que onde pouco se cria, e muito se copia, boas ideias e exemplos meritórios correm o risco de se transformar, como no samba de Noel, em meras conversas de telefone – Alô Boy, Alô Johnny.    

 Rio, 20 de fevereiro de 2016.

Dom Obá III, Contraditório-Substituto{jcomments on}.