Artigos da Seção AMAN 72

“Um porquê de o Exército não adotar o guarda-chuva”

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“O militar é superior ao tempo”. Esta é uma expressão há muito ouvi­da dentro da caserna, e é comum referir-se a ela para estimular a tropa, quando atingida pela chuva, na execução de qualquer atividade. E surte mui­to efeito.

Mas não há outro jeito, pois desde GUARARAPES, passando por CAXI­AS, aos dias atuais desconhece-se registro proibindo ou permitindo ao militar do Exército proteger-se da intempérie com um guarda-chuva. O consagrado por muito tempo foi o “em caso de mau tempo, Hinos e Canções na SI da SU”, assinalado nos QTS, desde que o mau tempo fosse chuva.

A não adoção de um guarda-chuva é o fato tão marcante que nem chegou a ser cogitada. Assim, numa consulta ao extinto verde RUPE (Regula­mento de Uniformes do Pessoal do Exército) percebe-se, desde o anuncio de sua vigência, a não referência sobre o tema. A situação perdurou durante a existência da CONFARDEI (Sic) e, também, não mereceu nenhum exame por ocasião da criação do RUE (Regulamento de Uniformes do Exército) que pro­porcionou à Força Terrestre uniformes mais confortáveis e elegantes, a seme­lhantes aos uniformes usados por militares do reconhecido “primeiro mundo”, mas com a recomendadas restrições à água.

Os paliativos ficam por conta das capas de plásticos ou náilon e dos ponchos V.O com demonstrada pouca impermeabilidade, ou, algumas vezes por um “bizonho Azambuja” utilizador de outros materiais e técnicas de apro­veitamento não muito usuais e, por isso, abominadas por quem as presencia.

Então, por que o EB jamais adotou um guarda-chuva verde oliva? Mui­to além da preocupação de cair num precipício ridículos, verifica-se a visão sábia de evitar-se uma montanha de situações delicadas e, na maioria das ve­zes, complicadas.

A existência do guarda-chuva V.O ressuscitaria, de imediato, o outrora bem assimilado “método PAYET”, aquele mesmo seguido para estudar o FM MADSEN. 30 e o Rv Cal.45 SW, cujo teor, para aquela peça, pode ser imagina­do:

1.O Guarda-Chuva V.O divide-se em cabo com prolonga; guarda-chu­va propriamente dito; e ponteira.

2. O cabo pode ser de baquelite, madrepérola, osso ou outro qualquer sucedâneo. A prolonga sempre será de metal para conter os mecanismos de acionamento.

3. O guarda-chuva propriamente dito divide-se em varetas metálicas articuladas; terminais metálicos; cursor; tecido; contentor; e presilha.

a.O tecido poderá indicar o posto ou graduação de quem o conduzir.

4. A ponteira será de material igual ao cabo”

Um manual seria, prontamente, criado. Nele, dentre outras informa­ções com certeza, constariam.

a. Modos de condução (todos com a mão direita)

  1. Fechado

    1. À semelhança da bengala

  1. Distendido ao longo do braço direito com a ponteira pra cima.

  2. À moda Bat Masterson, girando em círculos ao longo do braço (recomendando para os mais experientes e antigos)

    1. Aberto

    1. Apoiado no ombro direito num ângulo de 76º, sendo empunhado pelo cabo com a mão direita.

b.Formas de acionamento (ou avanço do sistema)

   1) Para o guarda-chuva manual:

Empunhe-o com a mão direita, estendido no prolongamento do braço, a um ângulo de 38º. Com a mão esquerda, solte o contentor da pre­silha, para ter acesso a prolonga. Com o polegar, ainda da mão esquerda, comprima o retém inferior do guarda-chuva para que ele se aloje no seu re­baixo, force o para frente, até que ele consiga abaixa o retém superior. As va­retas metálicas articuladas armarão o tecido que este soldado a elas pelos terminais metálicos.

2) Para o guarda-chuva automático

Execute as mesmas operações para que possa ter acesso a prolonga. Com o polegar da mão direita comprima o botão serrilhado existen­te neste modelo. Todas as operações realizadas automaticamente até o com­plemento acionamento”.

Daí, então, tudo dentro do EB teria de adaptar-se para o controle, a manutenção, a administração e a coordenação do novo material.

O primeiro documento a ser modificado seria o material C21-30 (o das abreviaturas) para nele serem inseridas algumas siglas causadoras de fu­ror nos mais “milicosos”. Como por exemplo, citam-se:

- Gda Chu VO Mod 94 Aut ________ Guarda-Chuva verde oliva 1994, automático;

- Term Met _______ Terminal metálico;

- Var Met Art ________ Vareta metálica articulada;

- Bot Ser ______ Botão serrilhado;

- Ret Inf Gda Chu VO _______ Retém inferior do guarda-chuva verde oliva.

Nessa toada, conclui-se, sem pessimismo, sobre a necessidade de uma revisada na totalidade dos regulamentos e outros manuais. Basta imagi­nar-se continência com ou sem Gda Chu; movimento de cobrir com ou sem Gda Chu; guarda do quartel com Gda Chu; Toque de corneta para tropa com Gda Chu. Seria um horror!

As Unidades teriam de ser dotadas de uma nova dependência por SU; a Reserva dos Guarda-Chuvas. Por conseqüência, os QO receberiam mais uma função: a de Cabo da Reserva de Guarda-chuva (ou Cabo Guardachuvei­ro, à semelhança do armeiro). O Cb Res Gda Chu seria homem de confiança, com muito fácil acesso ao seu comandante, permitindo presenciar-se, com freqüência o seguinte dialogo:

- “Cap! Posso dar um banho de sol nos guarda-chuvas? Eles já es­tão precisando”.

- “Pode, mas fique de olho por que o tempo não esta muito firme e não é bom molhar esses materiais”.

Uma nova dificuldade seria o porte para a utilização, pelo militar. Para fins de uniformização, teria de haver uma determinação em Boletim In­terno: “2ª Parte – INSTRUÇÃO – USO de Gda Chu VO – Determinação. Conside­rando o período chuvoso que se aproxima, determino o porte obrigatório do Gda Chu Vo por todos os militares deste Grupo, nos deslocamentos de e para o quartel”. E lá se via o “milico” como o sol a pino, com seu protetor de chu­va, sendo transportado fechado por um daqueles três “Modos de condução”, porque a chuva não caiu. O efeito contrário, também, seria observado: chuvas torrenciais, mas como não houve determinação no Bol Int, o militar continuaria a ser superior ao tempo.

Adotado o Gda Chu VO, ele abriria portas para os inventores criati­vos de plantão. Surgiriam idéias sobre o Gda Chu 10 Pr. Especial para o GC, mas acarretando o aumento de um homem naquela fração: o Sd Porta Gda Chu 10 Pr. Evoluções para Gda Chu Gu Pç 105 mm ou Gda Chu Sec Mrt seriam patéticas.

Os mais belicosos enveredariam pela utilização como arma, tam­bém, enlevando-se com a Gda Chu VO 7,62 mm ou Gda Chu Lç Rj 3.6, sendo este descartável.

A situação se complicaria com os saudosistas: corda-tronco para os Gda Chu; linda de Gda Chu; ZR1 Gda Chu, etc...

Todos esses raciocínios, colocados em pratica, causariam um refle­xo na tática, na estratégia e na administração, aumentando as atividades dos B Log e Pq Mnt, pois para a simples descarga de um Gda Chu, teria de ser no­meada, antes, uma comissão “parruda” para elaborar um IT ou PT, visto que num primeiro exame o Gda Chu seria composto de materiais da gestão da Sec CI II (tecido, presilha, contentor); da Sec Sup CI VI (Var Met Art, Bot Ser, Cursor, Rer Inf, Ret Sp); da Sec Sup CI V (lembremos do Gda Chu 7,62 mm e outros).

Agora imaginemos o suprimento: as RM, para serem privilegiadas, apresentariam seus chorosos argumentos aos Departamentos – vale lembrar o envolvimento de pelo menos dois: o DLog e o DGP (Cb Res Gda Chu).O CO­Ter seria fustigado pelos Cmdo Mil área para os casos do Gda Chu 10 Pr ou dos Gda Chu Pç 105 mm. Estes por sua vezes acionariam o EME por intermé­dio de estudos e relatórios minuciosos, apreciados pelas suas 4ª e 6ª Subche­fias.

O parecer final seria ato de assessoramento do Gab CmtEx. Sua proposta, de imediato seria uma reunião exclusiva com ACEx, para ser tratado o assunto sem ter necessidade de ela ocorrer em região e dia chuvosos.

É o Exército é sábio! Jamais cogitou em dar atenção à necessidade ou não de dispor de um material, também, apropriado e útil ao militar para se defender de alguns “respingos”. Quando fosse chamado por um superior, para ser admoestado, bastante, para tanto, uma especificação da autoridade se ele deveria comparecer com aquela peça de proteção.

Resulta daí que o militar, com o tempo, passou a ser superior a quase tudo, e é salutar assim permanecer.


Devaneios do Cel R/1 Carlos Alberto de Morais Rocha (AMAN/1969), desde a época de 2º Ten – 1970 – revelados em pequenas rodas de amigos da caserna e só agora sendo mais difundidos.{jcomments on}