Artigos da Seção AMAN 72

AUFTRAGSTAKTIK

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   “Auftragstaktik. Corresponda-se com meus contatos!” No bilhete imperativo e enigmático, Dom Obá III saiu de cena pós SSIP-Express, tabloide de sua iniciativa solitária para atualizar a MMM em assuntos da reserva (in) ativa.  Há dias em lugar incerto e não sabido, transferiu-me à revelia a tarefa de substituí-lo na redação de proclamas. 

   Dom Obá surpreende. Geralmente cordato, torna-se irascível em determinadas condições de temperatura e pressão, sobretudo ao perceber-se incompreendido nos propósitos altruístas. Desconfiado das motivações do sumiço intempestivo, vasculhei alfarrábios para capturar-lhe as ideias e melhor cumprir a ingente missão rabiscada em papel de pão.  

   Auftragstaktik... auftragstaktik... a sopa de letras cabalística ecoada como um mantra me intrigava. O que significaria, se é que havia significado nela? Quase a consultar  Baci, o Cossaco de Curitiba expert em dialetos eslavos, decidi encarar o desafio.

   Sucediam-se indícios, evidências se afirmavam. A cada minuto da pesquisa descerrava o pensamento intrincado do nobre daomeano. À margem de correspondência recente anotações reveladoras, das quais transcrevo algumas, malgrado eventuais retaliações desavisadas ao mote – “o que Dom Obá escreve, já prescreve”-, lavratura dele para desestimular processos judiciais e vendettas sanguinárias.         

   “Expus três queridos confrades à execração pública sem maldade, para incentivá-los a rever fundamentos comportamentais de questionamentos pueris. Ao legítimo mestre stricto sensu em aplicações militares não se concede o direito a dúvidas tão subalternas. Fui duro, bem sei, mas tenho certeza de que entenderam a reprimenda pedagógica.” Ops, espicaçaram a severidade castrense de Dom Obá, imaginei.

   “Contestou-me companheiro dileto, iludido por fonte não confiável. Indagado, guarda mutismo cúmplice ao palpiteiro informal.  Só o benefício da dúvida de não ter recepcionado a tréplica atenua o endosso dos informes F-6. Ora, bolas!”  Putz, transparece irritação crescente  mormente por se referir a mestre (doutor?) em aplicações hi-tech militares. Prossegui temeroso.    

   Descartado indiscutível progresso na prospecção, persistia o enigma Auftragstaktik.  Desvendá-lo me angustiava mais e mais, até que no acaso das melhores descobertas, o fio da meada. Em meio às mensagens, a de prestigiado pesquisador musical rebrilhava: -“confesso que eu não soube preencher todos os dados exigidos nas fichas. Acredito que outros “humanos” como eu devem ter ficado na mesma situação, assim sendo solicito uma luz.... Não me recordo de ter feito Monografia na EsAO.(alemão chegando???)”.  Comentário irado:

   “ É inadmissível que suposto mestre militar se confesse incapaz de preencher simples formulários informativos. Moltke, o Velho, ao invés de reajustar  rebaixaria os seus proventos ao percentual elementar. Descompromissado ao extremo, desconhece se elaborou monografia. Jamais incorporaria um Rowan, da Mensagem a Garcia. Assim, não dá!”. O caldo entornara de vez.     

 Todavia o clarão da revelação emitia sinais otimistas. Moltke ... Rowan ... mensagem a Garcia ... a tradução do misterioso writ do alterego rondava na memória antiga de Damerran Smith, o Venerável.

   Se bem recordo das preleções noturnas do ícone 4C, nas baias do Esquadrão, Moltke, o Velho, Marechal e emérito pensador militar alemão, liderou a reforma doutrinária do exército prussiano no século XIX. O cerne da renovada doutrina consistia, e consiste, na larga iniciativa operacional dos quadros a partir da “missão pela finalidade” da gloriosa Cavalaria.  Eureka!  É a Auftragstaktik, gritei emocionado.

   E Rowan? Na guerra hispano-americana, em 1898 o Presidente dos Estados Unidos, William McKinley, precisava urgentemente contatar o General Calixto Garcia Iñiguez, chefe revoltoso encastelado em local de difícil acesso no interior de Cuba. Esgotava-se o tempo. Até voluntariar-se o Tenente Rowan -  decerto Cavalariano - que recebeu do Presidente a seguinte ordem: -“Entregue esta carta ao General Garcia”. Mais nada, sem explicação ou questionamento. Quatro semanas depois, missão cumprida, Rowan retornava são e salvo.     

    Afinal interpretara a intenção do africanista, do mandamento explícito ”o que fazer” ao “como fazer” implícito da iniciativa própria, graças à compreensão da identidade conceitual entre  Auftragstaktik, mensagem a Garcia e missão pela finalidade.

    Apesar de tudo, o coração sensível deste escrevinhador anistia de insurretos a questionadores desamparados. Assim, na próxima reunião CMPV da Turma – 05 ou 12? – distribuirá requerimentos e fichas para obtenção de diplomas de “mestre stricto sensu em aplicações militares”, junto à EsAO.   Aos mais interessados, como o Dr Chaves Machado, adicionará a GRU impressa, para isso bastando ligação antecipada.           

    “Mais realizadores, menos questionadores”. Esta, a anotação derradeira de Dom Obá III.

     Auftragstaktik!!!

Rio de Janeiro, 31 de maio de 2015.

Cad Cav 1039/72, Nilo, no impedimento de Dom Obá III.{jcomments on}