*História Reiunas*

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Caros amigos

Ao tempo em que a carreira das armas sofre tanta contestação...e o patriotismo deixou de ser uma coisa digna de ser comemorada, vale a pena recordar momentos históricos que marcam a superação de todas as dificuldades em prol de um ideal, em prol do cumprimento da missão. O fato inédito abaixo transcrito é, certamente, um desses acontecimentos que nos remetem à época áspera, heróica e inesquecível que vivenciamos na AMAN em uma quadra histórica muito difícil e incerta.

O título "Histórias Reiúnas" faz a alusão a um antigo livro da Bibliex, final da década de 50, início da de 60, em que fatos como esses foram colecionados pelo autor e contados de forma muito pitoresca. Quem sabe devesse ser reeditado, ou um novo livro pudesse reunir as inúmeras histórias, pitorescas e picarescas, que cada um de nós certamente conhece ou viveu ao longo da vida militar?

- FATO INÉDITO DA TURMA DE 1961 DO CP0R/RJ -

A Turma de 1961 do Curso de Cavalaria, Comandada pelo Major Aécio, possuía como instrutor, Ten. Hugo, sendo seu auxiliar direto o Sargento Padrão.

Esta turma, que completa 50 anos, recebeu do Ten. Hugo (Japonês) o desafio de ir e voltar a cavalo a Resende na Academia Militar.

Inscreveram-se como voluntários, aproximadamente, 40 alunos não só do 1º Período, como também do 2º Período.

Devido ao esforço físico ser muito grande, o Ten. Hugo resolveu fazer a escolha dos alunos que cumpririam o Haid Rio - Resende/Resende - Rio, por esgotamento físico, pois somente treze cavalos estavam em condições de agüentar a marcha.

Marcou  para a próxima sexta-feira, o teste físico. Todos teriam que estar em forma totalmente equipados às cinco horas da manhã.

A marcha a pé, partiu exatamente na hora marcada, o percurso era do Quartel à Estação de São Francisco Xavier. A instrução era a seguinte: Quem quisesse desistir, pedia para sair de forma e embarcaria no caminhão de volta ao quartel. Os últimos 13 que ficariam seriam os contemplados e habilitados para a marcha. Não era permitido parar para descanso. Não era permitido beber água.

A marcha durou das 5h até as 20h. Quando o 14º aluno pediu para embarcar no caminhão, ficando apenas 13 alunos aptos para realizar o Haid.

O Ten. Hugo, após selecionar os alunos, foi ao Comandante que era da Arma de Infantaria, com os treze alunos em forma, prestou a continência de praxe, apresentou a tropa (13) dizendo em voz alta e vibrante, Apresento ao Comandante a tropa que seguirá para Resende e voltará ao Quartel.

O Comandante então lhes disse: Apresentado. Pode baixar a mão.

Em seguida proferiu as seguintes palavras: Concedo este desafio, mas os treze que seguirão, terão que voltar ao quartel. Não vou admitir que nenhum de vocês desista no meio do caminho. Prometo, se aqui chegarem 13, eu estarei no palanque para recebê-los, com todas as honras, pois vocês estarão representando o CPOR do Rio de Janeiro. Se voltarem os treze, eu me apresentarei ao Tenente Hugo, a frente de todo o CPORJ, pedirei ao Tenente Hugo permissão para baixar a mão. O comandante diante da expectativa de sua responsabilidade quebraria o protocolo militar, pela vibração, orgulho no cumprimento da missão.

No dia 13 de maio, seguimos para Resende, acompanhado por uma viatura ambulância.

Quando, estávamos chegando à última ponte de Resende, vimos uma tropa de Cavalaria, portando bandeiras das Armas do Exército, dirigindo-se em nossa direção. Ali estava o Cel Comandante da Arma de Cavalaria para nos receber. Acompanhou-nos até a Academia Militar de Agulhas Negras.

Na entrada da AMAN, não se via ninguém postado na reta de entrada, nem sequer os sentinelas.

Quando passamos os pórticos da entrada, a  Banda da AMAN formada atrás dos muros, deu o Toque de Vitória, e a fanfarra passou a tocar a Canção da Cavalaria. Todos nós entramos na AMAN chorando devido à emoção, que não esperávamos.

Dirigimos-nos a sede do Comando para apresentação ao Comandante da Academia, General Adalberto, que tinha por assistente o Capitão Kremer.

A primeira pergunta ao Ten. Hugo do General ao microfone foi: Saíram treze? Chegaram 13? Sendo respondido com orgulho ao Comandante. Sim Senhor! Saímos Treze e chegamos Treze.

O General Comandante, General Adalberto, desceu do palanque, cumprimentou um a um dos alunos.

Disse em seguida: O rancho está pronto. Vão se alimentar, depois descansar. Vocês merecem. Assim foi feito.

Três dias de marcha, sendo uma hora montado, e uma hora a pé.

Três dias de descanso cumprimos na AMAN.

Voltamos no quarto dia para o CPOR. Realizado o percurso, entramos pelo portão dos fundos da quinta, lá estava postado em ala um aluno de cada arma, que ao passar a tropa montada, ficavam na posição de sentido, e faziam continência.

Ao chegarmos ao palanque erguido ao lado de nosso quartel, lá estava o Cel Comandante, que ordenou o toque de vitória.

Quando o Ten. Hugo desembainhou sua espada para apresentar a tropa, que retornava, o Cel deixou que cumprisse o ritual militar, em seguida, disse em voz firme e vibrante: Tenente Hugo, quantos alunos retornaram? O Ten. em voz embargada, mas firme, respondeu:

Fomos 13 e voltamos 13, para a gloria do nosso Exercito, e da Arma de Cavalaria.

Fez-se silêncio. O Cel Comandante na posição de Sentido, mão na pala de seu quepe, disse: Cel Comandante do CPOR do Rio de Janeiro pede permissão para abaixar a mão, prestou continência. O Ten. Hugo responde:

Permissão concedida. Missão cumprida. Brasil!

Todo o CP0R  vibrou, as nossas lágrimas correram.

Não tenho dúvidas. Hoje aos 72 anos posso afirmar:

ESTA FOI A MAIOR EMOÇÃO DE MINHA VIDA!

Agradeço, estes momentos vibrantes de minha vida ao Exército Brasileiro, que sempre poderá contar com a sua Reserva, pronta para dar ao Brasil os maiores sacrifícios, cumprindo com o seu dever e amor a Pátria brasileira.

BRASIL. ACIMA DE TUDO !

Américo Chaves  - TURMA DE 1961 - CPOR - EXÉRCITO BRASILEIRO

2º Ten. R/2 da Arma de Cavalaria (72 anos){jcomments on}